No começo do século XX, a Rússia era um país atrasado, onde o povo vivia na extrema pobreza e sem participação alguma nas decisões políticas. O czar ou imperador era o senhor absoluto do poder, e a economia agrícola fazia o país viver em uma realidade semi-feudal. A Primeira Guerra Mundial acabou complicando ainda mais a situação, com o atrasado Exército Imperial Russo sofrendo inúmeras derrotas para os alemães e seus aliados austro-húngaros. Então em fevereiro de 1917(segundo o calendário juliano, pois segundo o calendário gregoriano foi em março), uma revolta popular eclodiu em Petrogrado, que era a capital do país, recebendo a adesão dos soldados e cabos do exército. Formou-se então o Soviete de soldados e trabalhadores de Petrogrado, que assumiu o controle da capital. Outros sovietes foram surgindo pela Rússia, o que acabou obrigando o Czar Nicolau II a abdicar o trono. A Duma(o parlamento) formou um governo provisório, que garantiu a conquista da democracia, libertando os presos políticos e permitindo o retorno dos exilados, ao mesmo tempo que não promoveu nenhuma política social que combatesse a miséria da maior parte da população. E manteve a Rússia na guerra.
Então em 25 de outubro de 1917(segundo o calendário juliano, pois segundo o calendário gregoriano foi em 7 de novembro), ocorreu na Rússia, a primeira revolução socialista da história. Após retornar do exílio, o revolucionário marxista Vladimir Lênin ordenou a seus camaradas do Partido Bolchevique, que fizessem oposição ao governo provisório e preparassem a revolução, com a palavra de ordem "todo poder aos sovietes", mobilizando os trabalhadores com a promessa de "pão, paz e terra". Após uma tentativa fracassada de golpe por parte de setores de extrema-direita do Exército Imperial Russo, comandados pelo general Kornilov, ocorrida em agosto de 1917, os bolcheviques conquistaram a hegemonia nos sovietes(conselhos operários), e assim realizaram a revolução socialista.
Em 25 de outubro de 1917, os revolucionários bolcheviques assumiram o controle da capital, Petrogrado, e enfrentando pouca resistência, ocuparam o Palácio de Inverno, que era a sede do governo provisório. Os revolucionários bolcheviques derrubaram esse governo provisório, que havia sido estabelecido oito meses antes, e proclamaram a primeira república socialista da história. O parlamento burguês(Duma) foi dissolvido, e o poder passou para as mãos dos sovietes(conselhos operários), que eram controlados pelos bolcheviques. Foi então formado o Conselho de Comissários do Povo, presidido por Vladimir Lênin, que assumiu o governo do país e promoveu a transformação radical da sociedade russa, desapropriando a burguesia. O governo bolchevique estatizou as fábricas e bancos, promoveu uma reforma agrária radical e tirou a Rússia da Primeira Guerra Mundial.
Entre 1918 e 1921, ocorreu uma sangrenta guerra civil entre as forças revolucionárias(Exército Vermelho), leais ao governo bolchevique, e as forças contra-revolucionárias que pretendiam restabelecer a monarquia czarista(Exército Branco), e que tinham o apoio das grandes potências capitalistas. O Exército Vermelho venceu a guerra e os bolcheviques construiram em dezembro de 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS).
A desigualdade social praticamente chegou ao fim, com homens e mulheres passando a ter os mesmos direitos e deveres, inclusive os homossexuais, acabando com a discriminação sexual.
"A Revolução Russa eliminou todas as leis czaristas que reprimiam a homossexualidade e que eram 'contraditórias com a consciência e a legalidade revolucionária'. Em 1923, um renomado médico de Moscou aprovava um novo código legal dizendo: 'A legislação soviética se baseia no seguinte principio: declara uma total ausência de interferência do estado e da sociedade nos assuntos sexuais, sempre e quando não sejam afetados os interesses de nenhuma outra pessoa'”. (Andrea D`Atri; em "O socialismo e a questão homossexual")
A URSS passou a apoiar o movimento revolucionário na China, que unia comunistas e nacionalistas do Kuomitang, na luta contra os chamados "senhores da guerra", que mantinham a nação chinesa no mais absoluto atraso e entregue ao banditismo.
Entretanto o socialismo soviético acabou sofrendo uma grave degeneração, após Josef Stalin assumir o poder absoluto no final dos anos 20, estabelecendo uma ditadura totalitaria responsável pela morte de cerca de 20 milhões de soviéticos. Esse regime arbitrário e burocrático, longe de acabar com a exploração do homem pelo homem, resultou no surgimento de uma casta privilegiada de burocratas que agia como uma nova classe dominante, oprimindo o proletariado e o campesinato. Inclusive revogou as leis que davam direitos iguais aos homossexuais, que passaram a ser tratados como "contra-revolucionários". Isso acabou resultando no colapso do regime socialista no final dos anos 80.
"Um olhar retrospectivo sobre o século passado não pode se omitir sobre o trágico legado do stalinismo. A esquerda em especial não tem o direito de ignorá-lo. Tal herança pesa como um fardo sobre ela, mesmo já havendo uma alentada produção teórica de condenação dos anos em que Stalin esteve à frente da URSS, principalmente após o final dos anos 20 e até sua morte, em 1953. (...)
Para a esquerda, é necessário resistir à tentação de refugiar-se num tempo de ouro, na nostalgia de um tempo feliz, que não existiu, ao contrário. O stalinismo foi um tempo de terror, de esmagamento dos adversários pela violência, marcado pela ausência da política, ao menos se esta for entendida como o reino da liberdade, e não da força bruta.
O stalinismo foi a maior tragédia do povo russo e de todo o povo do Leste Europeu, afora as guerras. Não podemos mais ter receio de afirmar isso. Havia um temor de que isso parecesse diminuir o mérito da resistência do povo soviético ao nazismo. Não diminui. Os vestígios de stalinismo, indícios que sejam, são nefastos, atentados a qualquer idéia de vida democrática."
(Emiliano José; O stalinismo e sua trágica herança)
O stalinismo foi a mais grave degeneração que o marxismo sofreu, transformando a União Soviética ou URSS, em uma ditadura totalitaria e burocratica responsável pela morte de cerca de 20 milhões de soviéticos. Também foi responsável pela morte de milhares de pessoas, nos países do Leste Europeu onde o Exército Vermelho estabeleceu regimes socialistas após a Segunda Guerra Mundial. A filosofia marxista em momento algum defende regimes totalitarios, ditadura de partido único e muito menos culto a personalidade do lider, que eram caracteristicas do regime stalinista.
Josef Stalin era um revolucionário bolchevique e tornou-se secretário-geral do Partido Comunista da Rússia em 3 de fevereiro de 1922. Quando o lider do partido e do Estado soviético, o revolucionário Vladimir Lenin, sofreu o terceiro enfarte que o deixou inconsciente, em março de 1923, foi formado um triunvirato composto por Stalin, Grigory Zinoviev, e Lev Kamenev, que assumiu a direção do governo soviético. Após a morte de Lenin, ocorrida em 21 de janeiro de 1924, começou uma batalha feroz na burocracia do partido para ver quem iria sucede-lo. Stalin saiu na frente por comandar a burocracia partidária, e após derrotar Trotsky e afastar outros adversários dos principais postos de direção, assumiu o poder absoluto em 1928.
Leon Trotsky foi o revolucionário bolchevique que organizou o Exército Vermelho, e era considerado o principal adversário de Stalin na sucessão da liderança do Estado soviético. Opositor do stalinismo, Trotsky acabou sendo expulso da URSS, em 1929, e no exílio organizou um movimento comunista dissidente, a IV Internacional. Acabou sendo assassinado por um agente stalinista em 1940, no México, onde estava exilado.
O stalinismo tornou-se uma antítese do marxismo, pois ao invés de acabar com a exploração do homem pelo homem, originou uma casta privilegiada de burocratas que agia como uma nova classe dominante, além de estabelecer um regime ditadorial responsável por alguns dos piores crimes contra a humanidade no século XX. Isso acabou resultando no fracasso dessa primeira experiência socialista.
O autoritarismo de Trotsky
Apesar de ter sido o mais feroz opositor do stalinismo, Leon Trotsky na verdade defendia as mesmas políticas totalitarias que Stalin imprementou a partir de 1929. Trotsky foi o primeiro a defender políticas extremamente autoritárias entre os bolcheviques, como por exemplo, a estatização dos sindicatos e a militarização do trabalho, sendo criticado pelo revolucionário Vladimir Lenin.
"Trotsky foi o principal defensor da fusão dos sindicatos ao Estado e, inclusive, a sua militarização. Ele aplicou seus métodos "revolucionários" quando foi responsabilizado pela reorganização dos serviços de transporte. Assumindo o controle absoluto do Comitê Central de Transporte, decretou imediatamente "estado de emergência" nas ferrovias, destituiu os dirigentes eleitos dos sindicatos e colocou todos os operários sob lei marcial.
Em 16 de dezembro de 1919, Trotsky apresentou no Comitê Central do Partido Bolchevique a sua tese "Sobre a transição entre a guerra e a paz", na qual reafirmou a necessidade de militarização dos sindicatos russos. Ele defendeu novamente as suas posições no IX congresso do PCRb. Na ocasião afirmou ele: "As massas trabalhadoras não podem vaguear através da Rússia. Devem ser enviadas para aqui e para ali, nomeadas, comandadas exatamente como soldados (...) O trabalho obrigatório deve atingir a sua maior intensidade durante a transição do capitalismo para o socialismo (...) É preciso formar patrulhas punitivas e pôr em campos de concentração os que desertam do trabalho". E concluiu: "O Estado Operário possui normalmente o direito de forçar qualquer cidadão a fazer qualquer trabalho em qualquer local que o Estado escolha."
Contra as posições autoritárias de Trotsky, Lênin escreveu os artigos "Sobre os Sindicatos, o momento atual e os erros de Trotsky" e "Mais uma vez sobre os sindicatos, o momento atual e os erros dos camaradas Trotsky e Bukharin". Afirmou ele: "os sindicatos são uma organização da classe dirigente, dominante e governante. Mas não são uma organização estatal, não são uma organização coercitiva, são uma organização educadora, uma organização que atrai e instrui, são uma escola, escola de governo, escola de administração, escola de comunismo". Portanto, não poderiam ser transformados em quartel ou prisão.
Lênin negou a tese trotskista de que a defesa dos interesses materiais e espirituais da classe operária não deveria ser de incumbência dos sindicatos em um Estado operário. Para ele isto era um grave erro. Afirmou Lênin: "O camarada Trotsky fala de 'Estado operário'. Permitam-me dizer que isto é pura abstração (...) comete-se um erro evidente quando se diz: Para que e ante quem defender a classe operária, se não há burguesia e o Estado é operário? Não se trata de um Estado completamente operário, aí está o xis do problema (...) Em nosso país, o Estado não é, na realidade, operário, e sim operário e camponês (...) Porém há mais alguma coisa (...) nosso Estado é operário com uma deformação burocrática (...) Pois bem, será que diante desse tipo de Estado (...) nada têm os sindicatos a defender? Pode-se dispensá-lo na defesa dos interesses materiais e espirituais do proletariado organizado em sua totalidade? Essa seria uma opinião completamente errada do ponto de vista teórico (...) Nosso Estado de hoje é tal que o proletariado organizado em sua totalidade deve defender-se, e nós devemos utilizar estas organizações operárias para defender os operários em face de seu Estado e para que os operários defendam nosso Estado"".
(Augusto César Buonicore; em "Lenin, os sindicatos e o socialismo")
Por isso afirmo que o trotskismo não é alternativa para o stalinismo, mas sim o outro lado da mesma moeda. Os marxistas que defendem a luta do proletariado para derrubar o capitalismo e construir uma nova sociedade, onde não mais exista a exploração do homem pelo homem, devem romper com o stalinismo e também com o trotskismo, buscando resgatar o melhor do pensamento marxista, renovando-o segundo a realidade da luta de classes no século XXI.
Apesar de fracassada, a experiência socialista na URSS e no Leste Europeu teve a importância histórica de representar uma alternativa de sociedade pós-capitalista, onde ocorreu a desapropriação da burguesia, buscando acabar com a exploração do homem pelo homem. Mesmo com todos os crimes promovidos pelo stalinismo, essa primeira experiência socialista conseguiu transformar a Rússia semi-feudal dos czares em uma superpotência nuclear, que ameaçou a hegemonia mundial dos EUA, inclusive dando inicio ao programa espacial da humanidade, lançando o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957, e colocando o primeiro homem no espaço, o major Yuri Gagarin, em abril de 1961.