Sócrates Brasileiro
Chico Alencar - 08/12/2011
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, bom de bola e bom de cuca, foi figura paradoxal, como costuma acontecer com as pessoas que se destacam para além da vida anônima, corriqueira.
O “Doutor” merece admiração, porque sempre foi um questionador, um contestador, um ‘gauche na vida’. Jamais se acomodou ao sistema que o levou à fama e ao dinheiro. Prestígio e poder que nunca lhe orientaram técnica ou taticamente...
Menino ainda, pegou “um Ita no norte” mas não “foi pro Rio morar”. Seu “adeus a Belém do Pará” levou-o, com a família, a... Ribeirão Preto.
Jogador de futebol refinado, sempre rejeitou a imposição de ser atleta. Médico, nunca cuidou de sua saúde, pouco se importando se isso lhe custaria anos de vida. Dedicado integralmente ao em geral medíocre meio futebolístico, não abriu mão de, ali, estimular pensamento, provocar criatividade, cutucar inteligências. Assim foi no seu Botafogo/SP de origem, no Corinthians da consagração, no Flamengo, no Santos, na Seleção: Sócrates sempre na boa contramão. Inquieto e irridento frente à ditadura, tratou de proclamar a liberdade a partir do seu próprio ambiente de trabalho, articulando a ‘democracia corinthiana’. Politizado, jamais teve paciência para a disciplina que uma vida partidária ou a disputa de mandatos eletivos exige. Tímido, quase introvertido, percorreu mundos, aprendeu idiomas, apaixonou-se e casou-se várias vezes - a exemplo de seu ‘ídolo’ de versos e copo Vinicius de Moraes - deixando prole de 6 filhos. Esguio, pernas longas de chutes e passes agudos, bom de cabeceio, mais alto do que muitos que tentavam contê-lo, sua marca registrada no futebol que praticava era o desconcertante toque de calcanhar. Empenhado, sempre, em sorver até a última gota o imediato, o aqui e agora, partiu precocemente, aos 57 anos, deixando sinais de eternidade pelas causas democráticas e socialistas que impregnaram sua curta existência: homem amigo da morte por amar demais a vida.
Nome longo, vida breve, presença singular na história do esporte mais popular do Brasil e na própria história de nosso país: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
*Chico Alencar é professor de história e deputado federal (PSOL/RJ)
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