domingo, 11 de dezembro de 2011

Sócrates Brasileiro


Sócrates Brasileiro
Chico Alencar - 08/12/2011


Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, bom de bola e bom de cuca, foi figura paradoxal, como costuma acontecer com as pessoas que se destacam para além da vida anônima, corriqueira.
 
O “Doutor” merece admiração, porque sempre foi um questionador, um contestador, um ‘gauche na vida’. Jamais se acomodou ao sistema que o levou à fama e ao dinheiro. Prestígio e poder que nunca lhe orientaram técnica ou taticamente...
 
Menino ainda, pegou “um Ita no norte” mas não “foi pro Rio morar”. Seu “adeus a Belém do Pará” levou-o, com a família, a... Ribeirão Preto.
 
Jogador de futebol refinado, sempre rejeitou a imposição de ser atleta. Médico, nunca cuidou de sua saúde, pouco se importando se isso lhe custaria anos de vida. Dedicado integralmente ao em geral medíocre meio futebolístico, não abriu mão de, ali, estimular pensamento, provocar criatividade, cutucar inteligências. Assim foi no seu Botafogo/SP de origem, no Corinthians da consagração, no Flamengo, no Santos, na Seleção: Sócrates sempre na boa contramão. Inquieto e irridento frente à ditadura, tratou de proclamar a liberdade a partir do seu próprio ambiente de trabalho, articulando a ‘democracia corinthiana’. Politizado, jamais teve paciência para a disciplina que uma vida partidária ou a disputa de mandatos eletivos exige. Tímido, quase introvertido, percorreu mundos, aprendeu idiomas, apaixonou-se e casou-se várias vezes - a exemplo de seu ‘ídolo’ de versos e copo Vinicius de Moraes - deixando prole de 6 filhos. Esguio, pernas longas de chutes e passes agudos, bom de cabeceio, mais alto do que muitos que tentavam contê-lo, sua marca registrada no futebol que praticava era o desconcertante toque de calcanhar.  Empenhado, sempre, em sorver até a última gota o imediato, o aqui e agora, partiu precocemente, aos 57 anos, deixando sinais de eternidade pelas causas democráticas e socialistas que impregnaram sua curta existência: homem amigo da morte por amar demais a vida.
 
Nome longo, vida breve, presença singular na história do esporte mais popular do Brasil e na própria história de nosso país: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
 
*Chico Alencar é professor de história e deputado federal (PSOL/RJ)

Behemoth - "LUCIFER"



(tradução: Lucifer)

Eu sou uma chama escura entre os ventos de Deus,
Voar como um gemido -- como o surdo sino da Meia-Noite--
Estou na escuridão da aurora vermelha acesa nas montanhas,
Faísca da minha dor, minha estrela impotente.

Eu sou o rei dos cometas -- e o espirito dentro de mim, como o pó dentro da pirâmide etérea --
Eu sou o raio da tempestade -- mas mais silencioso que uma tumba
Eu estou escondendo cadaveres e ódio na minha sepultura

Eu -- abismo dos arco-irís -- e sobre eles um choro
Como o vento frio sobre o leito da lagoa que secou -
Eu fulgor dos vulcões - e nas planícies do pântanoeu ando como um funeral, com tédio e luto.

Vejo eles tocarem harpa -- ondas de fogo do céu -- e Sol -- Meu inimigo Sol!
Sobe saudando Deus.

Satanismo LaVey e o pensamento filosófico de Nietzsche


Religião ou filosofia de vida baseada em valores contrários ao cristianismo, o satanismo estimula o individualismo e o egoismo, onde cada ser humano, em sua individualidade, é uma divindade; capaz de alcançar altos níveis de evolução, desde que não esteja preso a nenhum dogma religioso que subtraia seus reais valores primitivos. Portanto, cada indivíduo tem a liberdade espiritual e filosófica de criar e desenvolver seus critérios, sendo ele seu próprio sacerdote, salvador e deus.

Em 30 de abril de 1966, o ocultista Anton LaVey fundou nos EUA, a "Church of Satan" (Igreja de Satã), que é a maior e mais conhecida seita satânica. Conhecida por ter muitos metaleiros e rockeiros entre seus membros(entre eles os músicos Marilyn Manson e King Diamond), defende uma moral hedonista onde estão presentes o uso de drogas e a banalização do sexo.

Anton LaVey é o autor da Bíblia Satânica, livro onde se encontram os fundamentos da Igreja de Satã. Em 1975, o tenente-coronel do Exército dos EUA, Michael Aquino, e alguns membros do sacerdócio da Igreja de Satã, romperam com essa seita e fundaram o Templo de Set, uma seita satânica que afirma defender "o individualismo esclarecido".

Tanto a Igreja de Satã, de Anton LaVey, quanto a sua dissidência, praticam a mágia negra e o ocultismo.

Anton LaVey escreveu a "BÍBLIA SATÂNICA", em 1969. Nesse livro, ele afirma que Satã é uma força da natureza, representando a liberdade e não o mal. Nesse livro, LaVey estabelece os dogmas de sua seita satânica, como: “Morte ao fraco, saúde ao forte!”.

Em seu livro, LaVey diz que o crucifixo representa incompetência, e insulta Jesus e os cristãos, dizendo: “Eu mergulhei o meu dedo indicador no sangue úmido do seu impotente e louco redentor, e escrevi na borda da sua coroa de espinhos: O verdadeiro príncipe do mal - o rei dos escravos!”

Pois bem, eu vejo muita semelhança entre a doutrina de LaVey e o pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche.

O filósofo Friedrich Nietzsche era ateu e seu pensamento também exaltava os mais fortes. Opositor do socialismo e de todas as doutrinas igualitaristas. Nietzsche condena "a moral que impele à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pelo influxo dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo uma forma de obediência".


Para ele, o homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita.

"A humanidade aprendeu a chamar a piedade de virtude, quando em todo o sistema moral superior ela é considerada como uma fraqueza." (Nietzsche)

Nietzsche era opositor radical da fé e moral cristã. Ele considera o cristianismo e o budismo como "as duas religiões da decadência", embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche "é cem vezes mais realista que o cristianismo".

"A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada." (Nietzsche)

"O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo." (Nietzsche)

Satanismo




O satanismo é uma "religião" ou "filosofia de vida", baseada na oposição aos valores cristãos. Não confunda satanismo com os doentes que tentam culpar o satanismo por seus crimes sociopatas, pois apesar da ocorrencia de crimes associados a adoradores de Satã, principalmente morte violenta de animais ou crimes de origem sexuai(estupro e pedofilia), nem todas as seitas satânicas promovem qualquer tipo de crime, inclusive afirmam que Satanás não representa o mal: “Satanás não é o mal. É a consciência de si mesmo.” (Marco Dimitri, lider da seita italiana 'Meninos de Satanás')

Não podemos esquecer que cristãos também cometem crimes, basta lembrar dos padres e pastores pedófilos, igrejas que enganam os fieis para usurpar os dízimos, etc. Portanto não podemos generalizar.

Não sou satanista, pois todas essas seitas promovem o individualismo exarcebado, o egoismo, e uma moral hedonista onde a busca do prazer acima de qualquer coisa, incluindo uso de drogas e banalização do sexo, estão presentes. Mas respeito o direito daqueles que defendem esse tipo de "filosofia de vida", desde que não promovam nenhum tipo de crime ou vandalismo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O valor da filosofia


"A filosofia, como todos os outros estudos, visa primariamente o conhecimento. O conhecimento que visa é o tipo de conhecimento que dá unidade e sistema ao corpo das ciências, e o tipo que resulta de um exame crítico dos fundamentos das nossas convicções, preconceitos e crenças. (...)

         
O homem sem rudimentos de filosofia passa pela vida preso a preconceitos derivados do senso comum, a crenças costumeiras da sua época ou da sua nação, e a convicções que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento da sua razão deliberativa. Para tal homem o mundo tende a tornar-se definitivo, finito, óbvio; os objectos comuns não levantam questões, e as possibilidades incomuns são rejeitadas com desdém. Pelo contrário, mal começamos a filosofar, descobrimos que mesmo as coisas mais quotidianas levam a problemas aos quais só se podem dar respostas muito incompletas. A filosofia, apesar de não poder dizer-nos com certeza qual é a resposta verdadeira às dúvidas que levanta, é capaz de sugerir muitas possibilidades que alargam os nossos pensamentos e os libertam da tirania do costume. Assim, apesar de diminuir a nossa sensação de certeza quanto ao que as coisas são, aumenta em muito o nosso conhecimento quanto ao que podem ser; remove o dogmatismo algo arrogante de quem nunca viajou pela região da dúvida libertadora, e mantém vivo o nosso sentido de admiração ao mostrar coisas comuns a uma luz incomum." (Bertrand Russell; em “O Valor da Filosofia”)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SAIBA O QUE É O CAPITALISMO



O capitalismo nada tinha de democrático, foi graças a luta do movimento operário a partir da segunda metade do século XIX, organizado por comunistas e anarquistas, que o capitalismo se democratizou ocasionando a chamada "socialização da política", que garantiu a participação popular e a conquista de direitos trabalhistas. Isso já demonstra a importância do socialismo para o progresso da humanidade.

A fracassada experiência socialista na URSS e no Leste Europeu, teve a importância histórica de representar uma alternativa de sociedade pós-capitalista, onde se buscava acabar com a exploração do homem pelo homem. Apesar dos crimes promovidos durante a era stalinista, o socialismo foi capaz de transformar um país agrário semi-feudal, como era a Rússia dos czares, em uma superpotência industrial e militar que ameaçou a hegemonia mundial dos EUA, inclusive promovendo o início da exploração espacial ao lançar o primeiro satélite(Sputnik), em 1957, e colocar o primeiro homem no espaço(Yuri Gagarin), em 1961. E a China tornou-se a potência que é hoje, graças a vitória da revolução socialista em 1949.

No tempo atual

Os trabalhadores não sofrem mais a exclusão política dos tempos de Marx, pois o voto é universal e os trabalhadores possuem partidos e sindicatos que defendem sua causa. Os trabalhadores também conquistaram direitos, como jornada de trabalho diária de oito horas, férias remuneradas de trinta dias, condições humanas de trabalho e melhores salários, que permitiram a "democratização do capitalismo", com o proletariado deixando de ser os semi-escravos dos tempos em que foi escrito o Manifesto Comunista. Mas não podemos nos iludir, a exploração capitalista continua existindo, inclusive com proporções desumanas em muitas regiões do planeta, como ocorre na África e grande parte da Ásia, por exemplo.

O capitalismo não é capaz de resolver os problemas que ele mesmo vem gerando, com sua lógica de lucro exarcebado, acumulação do capital e culto ao "deus" mercado.


"... podemos citar alguns dados com suas respectivas fontes recentemente sistematizados pelo Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza localizado na Universidade de Bergen, Noruega, que fez um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza elaborado desde mais de trinta anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e "especialistas" variados.

População mundial: 6,8 bilhões de habitantes em 2009.

1,02 bilhão de pessoas são desnutridos crônicos (FAO,2009);

2 bilhões de pessoas não tem acesso a medicamentos (
www.fic.nih.gov);

884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF 2008);

925 milhões de pessoas são "sem teto" ou residem em moradias precárias (ONU Habitat 2003);

1,6 bilhões de pessoas não tem acesso à energia elétrica (ONU Habitat, Urban Energy);

2,5 bilhões de pessoas não são beneficiados por sistemas de saneamento, drenagens ou privadas domiciliares (OMS/UNICEF 2008);

774 milhões de adultos são analfabetos (
www.uis.unesco.org );

18 milhões de mortes por ano devido pobreza, a maioria de crianças menores do que cinco anos de idade (OMS);

218 milhões de crianças entre 5 e 17 anos de idade, trabalham em condições de escravidão com tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados da ativa atuando em guerras e/ou conflitos civis, na prostituição infantil, como serventes, em trabalhos insalubres na agricultura, na construção civil ou industria têxtil (OIT: "La eliminación Del trabajo infantil, un objetivo a nuestro alcance" - 2006);

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação no produto interno bruto mundial (PIB mundial) de 1,16% para 0,92%; enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram fortunas em seus bens pessoais passando a dispor de 64% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos;

Somente esses 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seriam suficientes para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando muitas vidas e reduzindo os sofrimentos dos mais pobres. Entendam bem: tal coisa somente seria obtida se houvesse possibilidade de redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos da população mundial, deixando ainda intactas suas exorbitantes fortunas. Mas nem isso passa a ser aceitável pelas classes dominantes do capitalismo mundial.

CONCLUSÃO

Não se pode combater a pobreza (nem erradicá-la) adotando-se medidas capitalistas. Isso porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra a riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e as desigualdades sócio-econômicas a nível mundial.

Depois de cinco séculos de existência é isto e somente isto que o capitalismo tem para oferecer ao mundo! Que esperamos então para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, esse será claramente socialista! Com o capitalismo, não haverá futuro para ninguém! Nem para os ricos, nem para os pobres! A sentença de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburg: "socialismo ou barbárie" é hoje mais atual do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância, a usura. Mas cedo ou mais tarde provocará a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e a crise moral. Todavia estamos ainda em tempo para reverter esse quadro - então vamos à luta!"

(Atilio Borón; em "Saiba o que é o capitalismo")


O socialismo autoritário e burocratico felizmente está morto. Cabe a esquerda abandonar essa herança e resgatar o melhor do pensamento marxista, refundando o socialismo segundo a realidade da luta de classes no século XXI. Precisa ser um socialismo radicalmente democrático, livre de tentações dogmaticas e comprometido com a luta em defesa do meio ambiente e do desenvolvimento autossustentável.

O socialismo renovado é o caminho para trilharmos outro caminho que não seja o da barbárie.

sábado, 30 de julho de 2011

Marxismo-leninismo


O socialismo científico é uma doutrina política que se situa a esquerda do espectro político, fundamentando-se no pensamento filosófico de Karl Marx e de Friedrich Engels, e na sua interpretação realizada por Vladimir Lênin e demais revolucionários bolcheviques, que fizeram na Rússia, a primeira revolução socialista da história.

Segundo o pensamento marxista, a luta de classes é o motor que move a história, ou seja, a luta das classes dominadas contra as classes dominantes resulta em uma revolução social, promovendo a mudança dos meios de produção e assim gerando uma nova sociedade. Na atual sociedade capitalista, a luta de classes do proletariado contra a burguesia resultará em uma revolução socialista, destruindo o capitalismo e construindo uma nova sociedade, onde o proletariado se tornará a classe dominante, socializando os meios de produção e assim abrindo caminho para a construção de uma sociedade sem classes, onde o Estado se tornará desnecessario. Dessa forma chegaria ao fim a exploração do homem pelo homem. Essa nova sociedade surgida após a revolução, será o socialismo, fase intermediária que resultará na sociedade sem classes, ou seja, a sociedade comunista.

O revolucionário marxista Vladimir Lênin defendia a realização da revolução socialista em países capitalistas atrasados, como era o caso da Rússia semi-feudal dos czares, desenvolvendo o conceito do partido revolucionário como vanguarda do proletariado, e fundando o bolchevismo. O pensamento marxista clássico afirmava que a revolução socialista ocorreria primeiro em sociedades capitalistas desenvolvidas, como a Alemanha ou França, mas Lênin afirmava que em sua fase imperialista, o capitalismo sofreria revoluções iniciadas nos elos fracos de sua correia, que depois iriam se expandir para as sociedades desenvolvidas. Ou seja, a revolução na Rússia seria o estopim de uma revolução socialista mundial, que acabaria atingindo a Alemanha e o resto da Europa.

Em 25 de outubro de 1917(segundo o calendário juliano, pois segundo o calendário gregoriano foi em 7 de novembro), ocorreu na Rússia, a primeira revolução socialista da história. Os revolucionários bolcheviques derrubaram o governo provisório e o poder passou para as mãos do Congresso de Sovietes de Toda Rússia, que formou o Conselho de Comissários do Povo, presidido por Vladimir Lênin.

O governo soviético promoveu a transformação radical da sociedade russa, desapropriando a burguesia. O novo regime socialista estatizou as fábricas e bancos, promoveu uma reforma agrária radical e tirou a Rússia da Primeira Guerra Mundial.

"A Revolução Russa eliminou todas as leis czaristas que reprimiam a homossexualidade e que eram 'contraditórias com a consciência e a legalidade revolucionária'. Em 1923, um renomado médico de Moscou aprovava um novo código legal dizendo: 'A legislação soviética se baseia no seguinte principio: declara uma total ausência de interferência do estado e da sociedade nos assuntos sexuais, sempre e quando não sejam afetados os interesses de nenhuma outra pessoa'”. (Andrea D`Atri; em "O socialismo e a questão homossexual")

Entretanto o socialismo soviético acabou sofrendo uma grave degeneração, após Josef Stalin assumir o poder absoluto no final dos anos 20, estabelecendo uma ditadura totalitaria responsável pela morte de cerca de 20 milhões de soviéticos. Esse regime arbitrário e burocrático, longe de acabar com a exploração do homem pelo homem, resultou no surgimento de uma casta privilegiada de burocratas que agia como uma nova classe dominante, oprimindo o proletariado e o campesinato. Inclusive revogou as leis que davam direitos iguais aos homossexuais, que passaram a ser tratados como "contra-revolucionários". Isso acabou resultando no colapso do regime socialista no final dos anos 80.


"Um olhar retrospectivo sobre o século passado não pode se omitir sobre o trágico legado do stalinismo. A esquerda em especial não tem o direito de ignorá-lo. Tal herança pesa como um fardo sobre ela, mesmo já havendo uma alentada produção teórica de condenação dos anos em que Stalin esteve à frente da URSS, principalmente após o final dos anos 20 e até sua morte, em 1953. (...)

Para a esquerda, é necessário resistir à tentação de refugiar-se num tempo de ouro, na nostalgia de um tempo feliz, que não existiu, ao contrário. O stalinismo foi um tempo de terror, de esmagamento dos adversários pela violência, marcado pela ausência da política, ao menos se esta for entendida como o reino da liberdade, e não da força bruta.

O stalinismo foi a maior tragédia do povo russo e de todo o povo do Leste Europeu, afora as guerras. Não podemos mais ter receio de afirmar isso. Havia um temor de que isso parecesse diminuir o mérito da resistência do povo soviético ao nazismo. Não diminui. Os vestígios de stalinismo, indícios que sejam, são nefastos, atentados a qualquer idéia de vida democrática."

(Emiliano José; O stalinismo e sua trágica herança)


Apesar de fracassada, a experiência socialista na URSS e no Leste Europeu teve a importância histórica de representar uma alternativa de sociedade pós-capitalista, onde ocorreu a desapropriação da burguesia, buscando acabar com a exploração do homem pelo homem. Mesmo com todos os crimes promovidos pelo stalinismo, essa primeira experiência socialista conseguiu transformar a Rússia semi-feudal dos czares em uma superpotência nuclear, que ameaçou a hegemonia mundial dos EUA, inclusive dando inicio ao programa espacial da humanidade, lançando o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957, e colocando o primeiro homem no espaço, o major Yuri Gagarin, em abril de 1961.

A esquerda socialista precisa ser anti-stalinista, precisa deixar claro que ditaduras totalitarias de partido único, culto a personalidade e outras barbaridades que caracterizaram o socialismo oriundo da tradição stalinista, não tem nenhuma relação com o marxismo. Aquele socialismo que existia na antiga URSS, não é em hipótese alguma o socialismo que os marxistas autênticos querem construir. Inclusive em dezembro de 1922, ou seja, três meses antes de sofrer o terceiro derrame que o deixou inconsciente até sua morte, ocorrida em janeiro de 1924, o revolucionário Vladimir Lenin escreveu uma carta onde criticava Stalin, solicitando a sua demissão do cargo de secretário geral do Partido Comunista da Rússia(bolchevique), recomendando alguém que fosse mais leal e tolerante para o cargo. Lênin pretendia apresentar essa carta no congresso do partido, mas não pode faze-lo por causa do derrame.


"Me refiro à estabilidade como garantia contra a ruptura em um futuro próximo, e tenho a proposta de colocar aqui várias considerações de índole puramente pessoal. Creio que o fundamental no problema da estabilidade, desde este ponto de vista, são tais membros do CC como Stálin e Trotsky. As relações entre eles, a meu modo de ver, encerram mais da metade do perigo desta divisão que se poderia evitar, e a cujo objetivo deveria servir entre outras coisas, segundo meu critério, a ampliação do CC a 50 ou até 100 membros.

O camarada Stálin, tendo chegado ao Secretariado Geral, tem concentrado em suas mãos um poder enorme, e não estou seguro que sempre irá utilizá-lo com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, segundo demonstra sua luta contra o CC em razão do problema do Comissariado do Povo de Vias de Comunicação, não se distingue apenas por sua grande capacidade. Pessoalmente, embora seja o homem mais capaz do atual CC, está demasiado ensoberbecido e atraído pelo aspecto puramente administrativo dos assuntos(1). Estas características de dois destacados dirigentes do atual CC podem levar sem querer-lo à ruptura, e se nosso Partido não toma medidas para impedir-lo, a divisão pode vir sem que se espere.

Não seguirei caracterizando aos demais membros do CC por suas características pessoais. Recordarei apenas que o episódio de Zinoviev e Kamenev em Outubro(2) não é, naturalmente, uma casualidade, e que se disto não se pode culpar pessoalmente, tão pouco a Trotsky pelo seu não bolchevismo.(3)(...)

Stálin é brusco demais, e este defeito, plenamente tolerável em nosso meio e entre nós, os comunistas, se coloca intolerável no cargo de Secretário Geral. Por isso proponho aos camaradas que pensem a forma de passar Stálin a outro posto e nomear a este cargo outro homem que se diferencie do camarada Stálin em todos os demais aspectos apenas por uma vantagem a saber: que seja mais tolerante, mais leal, mais correto e mais atento com os camaradas, menos caprichoso, etc. Esta circunstância pode parecer fútil tolice. Porém eu creio que, desde o ponto de vista de prevenir a divisão e desde o ponto de vista do que escrevi anteriormente sobre as relações entre Stálin e Trotsky, não é uma tolice, ou se trata de uma tolice que pode adquirir importância decisiva."

(Trecho da Carta de Lênin ao XIII Congresso do Partido Comunista da Rússia(bolchevique))



(1) Lenin, no seu Testamento Político, fala de Trotsky como "o homem mais capaz do presente Comitê Central", mas deplora suas tendências autoritárias (nas palavras de Lenin, "sua tendência a abordar as questões apenas pelo lado administrativo").

(2) Zinoviev e Kamenev colocaram-se contra a tentativa de insurreição que resultaria na Revolução de Outubro de 1917 nas instâncias do Partido Bolchevique.

(3) Até 1917 Trotsky não ingressara nas fileiras do Partido Bolchevique, e conservava profundas divergências com os mesmos.


Autor: Marcelo Neuschwang Sancho; professor de filosofia da rede pública estadual do Rio de Janeiro, apaixonado por história e ciência política.